1. A obrigatoriedade
constitucional da extensão
O artigo 207 da Constituição
Brasileira dispõe que "As universidades gozam de autonomia
didático-científica, administrativa e de gestão financeira e
patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre
ensino, pesquisa e extensão".
Ensino, pesquisa e extensão
constituem as três funções básicas da Universidade, as quais devem
ser equivalentes e merecer igualdade em tratamento por parte das
instituições de ensino superior, pois, ao contrário, estarão
violando esse preceito constitucional.
2. O entendimento
inadequado do termo extensão
A palavra extensão, nesse
contexto, implica em estender-se, em levar algo a algum lugar, ou
até alguém.
No meio universitário, por vezes
se confunde o termo "extensão" com "cursos de extensão
universitária". Os cursos de extensão universitária, geralmente
acadêmicos e com pequena carga-horária, destinam-se a complementar
conhecimentos em áreas específicas. Já as atividades de extensão,
dever constitucional das universidades, são bastante amplas,
complexas e não se confundem com "cursos de extensão".
Um curso de extensão, ou vários
cursos de extensão, podem estar inseridos dentro das atividades de
extensão universitária da Instituição, mas não ensejam que extensão
seja apenas "cursos de extensão universitária".
3. O que é extensão
universitária?
A extensão universitária é, na
realidade, uma forma de interação que deve existir entre a
universidade e a comunidade na qual está inserida. É uma espécie de
ponte permanente entre a universidade e os diversos setores da
sociedade. Funciona como uma via de duas mãos, em que a
Universidade leva conhecimentos e/ou assistência à comunidade, e
recebe dela influxos positivos como retroalimentação tais como suas
reais necessidades, seus anseios, aspirações e também aprendendo
com o saber dessas comunidades. Ocorre, na realidade, uma troca de
conhecimentos, em que a universidade também aprende com a própria
comunidade sobre os valores e a cultura dessa comunidade. Assim, a
universidade pode planejar e executar as atividades de extensão
respeitando e não violando esses valores e cultura. A universidade,
através da Extensão, influencia e também é influenciada pela
comunidade, ou seja, possibilita uma troca de valores entre a
universidade e o meio.
4. Possibilidade de
socialização do conhecimento
Por meio da extensão, a
universidade tem a oportunidade de levar, até a comunidade, os
conhecimentos de que é detentora, os novos conhecimentos que produz
com a pesquisa, e que normalmente divulga com o ensino. É uma forma
de a universidade socializar e democratizar o conhecimento,
levando-o aos não universitários. Assim, o conhecimento não se
traduz em privilégio apenas da minoria que é aprovada no
vestibular, mas difundido pela comunidade, consoante os próprios
interesses dessa mesma comunidade.
5. Possibilidade de
colaboração com a nação
A universidade vai até a
comunidade, ou por vezes, pode receber pessoas da comunidade em seu
campus, prestando-lhes serviços, assistência, auscultando-lhes os
anseios e as necessidades. A universidade coleta dados e
informações, realiza estudos e pesquisas, visando a bem atender à
comunidade.
Portanto, a universidade ao
comunicar-se com a realidade local, regional ou nacional tem a
possibilidade de renovar constantemente sua própria estrutura, seus
currículos e suas ações, criativamente, conduzindo-os para o
atendimento da verdadeira realidade do país.
6. Possibilidade do
ensino-aplicação (prática)
As atividades de extensão bem
planejadas, bem estruturadas e bem executadas permitem à
universidade socializar e democratizar os conhecimentos dos
diversos cursos e áreas, e também preparar seus profissionais, não
somente com a estratégia do ensino-transmissão, mas complementando
a formação com a estratégia do ensino-aplicação.
Um velho provérbio chinês datado
de 4 mil anos A.C. já expressava:
"Se decoro,
esqueço,
se vejo, lembro-me
se faço, aprendo."
A experiência tem demonstrado a
atualidade desse provérbio, e que o verdadeiro aprendizado acontece
realmente com o relacionamento da teoria com a prática, ou seja,
além do estudo, vendo e fazendo.
É na extensão que os
universitários das áreas da saúde, engenharia, administração,
psicologia, direito, social e tantas outras, vão entender e
fundamentar os conceitos e teorias aprendidos nas atividades de
ensino, consolidando e complementando o aprendizado com a
aplicação. Daí um dos grandes méritos da extensão - permitir a
efetivação do aprendizado pela aplicação. Essa aplicação,
evidentemente, deve ser planejada e acompanhada por professores e
profissionais das respectivas áreas do conhecimento, da própria
Universidade.
7. A aplicação sistêmica
do ensino-pesquisa-extensão na busca da
qualidade
O artigo 207 da Constituição, ao
afirmar que "...as universidades obedecerão ao princípio da
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão", é bastante
sábio. Sábio porque obriga que as universidades sejam conduzidas,
associando e integrando as atividades de ensino, extensão e
pesquisa de maneira que se complementem, para bem formar seus
profissionais universitários. Veja-se: A universidade é detentora
do conhecimento e o transmite, por meio do ensino, aos educandos.
Por meio da pesquisa aprimora os conhecimentos existentes e produz
novos conhecimentos. Pelo ensino, conduz esses aprimoramentos e os
novos conhecimentos aos educandos. Por meio da extensão, pode
proceder a difusão, socialização e democratização do conhecimento
existente, bem como das novas descobertas à comunidade. A Extensão
também propicia a complementação da formação dos universitários,
dada nas atividades de ensino, com a aplicação
prática.
Assim, forma-se um ciclo onde a
pesquisa aprimora e produz novos conhecimentos, os quais são
difundidos pelo ensino e pela extensão, de maneira que as três
atividades tornam-se complementares e dependentes, atuando de forma
sistêmica.
8. A interdependência
entre ensino-pesquisa-extensão
O ensino precisa da pesquisa
para oxigená-lo, aprimorá-lo e inová-lo, pois, ao contrário, corre
o risco da estagnação. O ensino necessita da extensão para levar
seus conhecimentos à comunidade e complementá-los com aplicações
práticas. A extensão precisa dos conteúdos, educandos e professores
do ensino para ser efetivada. A extensão necessita da pesquisa para
diagnosticar e oferecer soluções para problemas diversos com os
quais irá deparar-se, bem como para que esteja constantemente
atualizando-se. Por sua vez, a pesquisa prescinde dos conhecimentos
detidos pelo ensino, como base de partida para novas descobertas.
Além disso, a pesquisa depende do ensino e da extensão para
difundir e aplicar sua produção, e assim, indicar-lhe os novos
rumos a seguir.
Portanto, ensino, pesquisa e
extensão são atividades interdependentes, complementares e precisam
ter valorações equivalentes no sistema universitário. A qualidade e
o sucesso dos profissionais formados pelas universidades, dependem,
diretamente, do nível de desenvolvimento, equilíbrio e harmonia
entre essas três áreas da Universidade. É difícil conceber
universitários bem formados sem a influência dessa formação
sistêmica interdependente e complementar que deve ser propiciada
pelo ensino, pesquisa e extensão.
9. Tipos de ações que
caracterizam a extensão
Dentre outras, podem ser
destacados os seguintes tipos de ações extensionistas:
· Cursos, palestras e
conferências;
· Cursos de ensino a
distância;
· Cursos de verão, ou
sazonais;
· Cursos por
correspondência;
· Colônia de
férias;
· Viagens de
estudo;
· Campus avançados;
· Associações de
ex-alunos;
· Aciso ¾ Ações
Cívico-Sociais;
· Apresentações musicais,
teatrais e feiras;
· Campanhas orientativas e
assistenciais;
· Programas e eventos culturais
e esportivos;
· Universidades
volantes;
· Escolas e hospitais
flutuantes, etc.
10. Vantagens da
extensão
1. Difusão e socialização do
conhecimento detido pela área de ensino;
2. Difusão e socialização dos
novos conhecimentos produzidos pela área de pesquisa;
3. Conhecimento da realidade da
comunidade em que a universidade está inserida;
4. Possibilidade de diagnosticar
necessidades de pesquisas e outras ações;
5. Prestação de serviços e
assistência à comunidade;
6. Fornecimento de subsídios
para o aprimoramento curricular e criação de novos
cursos;
7. Fornecimento de subsídios
para o aprimoramento da estrutura e diretrizes da própria
universidade na busca da qualidade;
8. Facilita a integração
ensino-pesquisa-extensão;
9. Possibilita a integração
universidade-comunidade;
10. Possibilita a comunidade
universitária conhecer a problemática nacional e atuar na busca de
soluções plausíveis.
11.
Conclusão
As atividades de extensão
universitária, tão imprescindíveis à formação do universitário
quanto o ensino e a pesquisa, precisam merecer por parte das
universidades particulares, maior atenção e apreço. As
universidades particulares não podem prescindir da extensão, pois
sem ela estarão divorciadas das comunidades onde estão inseridas,
além de estarem alijadas de instrumentos e condições capazes de
propiciar, aos novos profissionais, uma formação integral
consolidada.
Publicado em Integração ensino/
pesquisa/ extensão, III(9):148-9, maio/97.
Diretor do Centro de Pesquisa da
Universidade São Judas Tadeu de 1994 a julho de 2001.
Palestra proferida no II
Simpósio Multidisciplinar "A Integração Universidade-Comunidade",
em 10 de outubro de 1996.